segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Entre o bem e o mal .'.


MAGIA DO COTIDIANO .'. ENTRE O BEM E O MAL .'. 

O mago dosa as vivências da jornada. 
Ouve o que o céu e a terra tem a lhe dizer. 
Seus aliados e adversários lhe mostram o que fazer e o que evitar fazer.

O demônio sussurra em seu ouvido: "Dizem que você sonha grande demais. Que é ambicioso. Que tem recalques. Imagine-os com inveja. Com ciúmes. Você se intitula melhor do que é. Você se juga maior que os grandes. Coloque-se no seu lugar. Esqueça os sonhos. Para que malhar? Olhe tv à noite. Para que estudar? Durma até mais tarde. Para que trabalhar nos fins de semana? Beba todas. Telegrafe suas fezes aos culpados pelos problemas do mundo. Você é vítima. Você tem culpa. Se está difícil encontrar portas abertas, ou abrir caminhos, desista"

O anjo lhe diz: "Você é responsável pelo que faz no dia-a-dia. Você é capaz de construir o futuro que desejar. Você merecerá colher o bem se plantar o bem. Escolha o caminho certo"

Consciente de que precisa escolher os ingredientes certos. Completa a poção com o que lhe motiva, acrescenta e fortalece.

J.P.D.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

A história de João e Ana .'.

A HISTÓRIA DE JOÃO E ANA .'. POR JOANA .'.
Da série 'Contos de Paz'

Ana estava namorando um rapaz o qual admirava muito. João era devoto de Jorge. Apesar de adulto, ora se mostrava como um memino, ora como um pai, ora como um louco que se confundia com os mártires que acredita .'.
A relação de ambos teve bons momentos. Mas foi conturbada em alguns episódios. João julgava-se o próprio mito de suas crenças. Discutiam com frequência. Entre a bipolaridade e a abstinência de substâncias químicas, vinham as crises de agressividade. Porém, sem jamais agredir fisicamente. Apenas discussões e socos na parede .'.
João foi mal interpretado por Ana. Ana, ignorava que João integra a banda do céu e da terra, desde menino, juntou-se com seus comparsas para tramar-lhe uma emboscada .'.
Aprontaram uma oferenda de espadas de Jorge à terra. Encontraram-se em lugar neutro. Ana pediu que João 'girasse' dela, tal oferenda. De outro modo, em troca, pediu moedas a um adversário. Ignorando que o próprio João é quem lida com tal pare .'.
João foi julgado e condenado severamente, mesmo sendo inocente dos crimes que fora acusado. Dentre os quais, de imaginar, no chão, aqueles que visavam vê-lo cair de sua montaria imaginária. Mesmo sabendo que, era apenas João montado a pé, sozinho, quando lhe viram montado .'.
Seu bando foi proibido de ajudar-lhe. A banda branca silenciou por doze anos, quando João era ligado. Até que João começou a ajudar-se. Refazendo as ligações que guarda desde a infância .'.
No caminho, lhe propuseram justiça ou vingança. Descobriu que a trama lhe teve um custo. Um custo além de suas propriedades móveis e imóveis da época. Além de retardo de sua renda e da posição que almejava no mundo dos estudos e trabalhos. Um custo espiritual. Um dano emocional. Além de obstáculos profissionais que lhe causaram sofrimento .'.
João resguardou-se da proposta de vingar-se. Preferiu o caminho do bem. Fez uma lista de interesses, dentro de suas possibilidades e méritos construídos pelo empenho diário. Visto o êxito de sua autoajuda, ofereceram-lhe dobrar os ganhos. Mas João preferiu manter a lista, e multiplicar os ganhos possíveis com quem lhe ajudar a conquistar os objetivos registrados nos seus registros de metas .'.
Abriu mão do retorno de Ana, Joana e Mariana. As três virgens que conheceu na adolescência. E que andaram de mão em mão (salvo quem firmou relacionamento estável), após conhecê-lo. Preferiu casar-se com o poder superior. E manter-se solteiro. Para lutar à serviço do bem .'.
No caminho, encontrou outras mulheres. Algumas, resolveram somar-se em sua luta, na direção do crescimento pessoal e profissional. Outras, a serviço de um falso cão, foram descobertas em seus trabalhos de vampirismo.
Revelou-se que as mesmas trabalhavam em segredo. Vestidas de preto ou com roupas tigradas. Com rosas no ombro, ou borboletas, tatuadas. Deveriam ajudar os bons e punir os maus. Mas tiveram dificuldade em reconhecer João .'.
Tais moças, reconhecidas como nenhumas, tinham dificuldades em reconhecê-lo no amor, na riqueza e no sexo, do modo como luta em seu imaginário .'.
Aquele a quem deveriam ajudar e priorizar. Agora, abre os trabalhos de tais moças. Encontrando seus 'giros'. Em assaltos patrocinados pela moeda de dois lados, aos meninos adultos que se jugam o próprio pai que lhes acompanha .'.
Em nome dos anjos e cavaleiros, João iniciou um trabalho à serviço da luz. Apurando os fatos e débitos de quem se esconde, se esquiva e foge de reconhecê-lo e ajudá-lo. Pois quem age deste modo, ignorando seus méritos e necessidades, tem débitos ocultos a serem revelados .'.
Ana, tornou-se sua testemunha distante: "João é o maior guerreiro que conheci. Vi-lo cair, prostrar-se, gaguejar e derrubar-se; Vi-lo de pernas bambas; Vi-lo com o terreiro inteiro nas costas; Vi-lo sendo martelado em templos de mercadores; Vi-lo sendo jogado em um poço; Vi-lo sendo assaltado inúmeras vezes; E deixado na sarjeta de uma esquina". Onde encontrou-se, em meio a tristeza e a derrota do uso descontrolado de substâncias químicas. "E, mesmo assim, reergueu-se, vencendo, pra vencer, na alegria da sobriedade" .'.
J.P.D.

domingo, 19 de julho de 2015

A acordeonista


A acordeonista cansara de portar sobre suas costas sexagenárias, um acordeon que pesava 13 kg. O acordeon se tornara uma equação de difícil solução.

Ao viajar para a França, a dama vislumbrou na vitrine de uma loja um acordeon mais leve e funcional. Entrou e pediu ao vendedor para verificar as características do instrumento e dedilhou parte de uma música. Realmente, como parecia, era muito mais leve para segurar sobre os ombros. E era fabricado dentro dos padrões de alta tecnologia, possuindo inúmeros recursos.

Voltou à Porto Alegre, Rio grande do Sul, Brasil.

Certa manhã foi às compras num shopping da cidade.  Olhou para a vitrine de uma loja de instrumentos musicais e viu, com surpresa, o mesmo modelo de acordeom que havia descoberto na sua ida à França. Entrou na loja e pediu ao vendedor para experimentar o instrumento. Colocou-o sobre os ombros e dedilhou uma melodia para apreciar, inclusive, os ritmos e sons que poderia tirar do instrumento.

Ao perceber que se tratava do mesmo instrumento cuja leveza havia lhe impressionado,pediu ao vendedor que o colocasse na capa apropriada e o embrulhasse devidamente. 

O vendedor indagou, curioso, dirigindo-se à acordeonista:

- Mas a senhora não vai perguntar o preço do acordeom?

- E, por acaso, a arte tem preço?

Diante dessa resposta inusitada, o vendedor tratou de fazer logo a embalagem para evitar alguma advertência por parte da compradora que parecia ter uma palavra só.

A dama saiu da loja com o seu acordeon. E desejei que Deus desse a ela mais 40 anos de vida e assim, pudesse abrir seu leque sonoro, para transmitir a boa música. Pois só a música é o alongamento da alma. 

E tenho encontrado a acordeonista nos eventos da cidade, com sua inigualável e original performance, sempre portando um belo sorriso para sua platéia entusiasta e receptiva.


Katia Chiappini 


quinta-feira, 16 de julho de 2015

Mestre


MESTRE 

O Mestre estava deitado, debaixo de uma árvore, lendo um livro. O peregrino perguntou-lhe: "O que faz descansando sob o sol das quinze horas?"

O Mestre respondeu: "Estou trabalhando"

- "Mas ler, deitado na grama, é trabalhar?' - Questionou o peregrino.

- ''A um etnógrafo, antropólogo, pesquisador, pensador, intelectual, cronista e produtor literário, sim".

- "Lembre-se de movimentar-se" - Completou o peregrino.

- "Faço isso, em partes, várias vezes ao dia" - Respondeu o Mestre - "Inclusive quando muitos sentam para almoçar ou olhar televisão"; "Quando deitam para dormir, estarei redigindo as observações do dia".

*Em um diálogo intrapessoal; Mestre e peregrino, são estados de espírito do Mago, em sua jornada de autoconhecimento.

Juliano Dornelles

quinta-feira, 2 de julho de 2015

A greve do magistério



Em tempos idos precisávamos, lá na Escola, de um modo de criar verbas para manter a greve e nossas reivindicações.Acampamos na Praça da Matriz, junto ao Palácio Piratini da cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul,Brasil.

Quando tomei conhecimento das necessidades da turma tive uma ideia e tratei de materializá-la. Precisávamos de faixas, muitos cartazes,cavaletes, fita adesiva, cola, caneta e tudo o mais que possibilitasse agir em nome da causa e da palavra de ordem.

Então,escrevi 80 quadrinhas, sendo uma para cada uma das professoras, contendo  nome e características pessoais.

Fui encontrando as colegas e oferecendo as quadrinhas:

-Se quiseres guardar como lembrança essa quadrinha que fiz com o teu nome, é só pagar uma pequena quantia e levar para casa.

 Não saberia dizer a quantia solicitada, mas nunca vou esquecer que vendi as 80 quadrinhas que havia feito. Depois de alguns dias coloquei a importância arrecadada em um envelope e me dirigi à comissão de greve para fazer a entrega.

Ao deixar o local percebi que, ao mesmo tempo, entrava uma das vice-diretoras da Escola.

Eu já havia me distanciado um pouco, mas ainda foi possível ouvir o seguinte diálogo:

-Como conseguimos essa importância em dinheiro?

-Com as poesias da Katia.

Agradeci a Deus por esse dom de inspiração pródiga que me leva a escrever uma poesia, logo ao acordar, antes do café matinal. 


Katia Chiappini

A trama


A TRAMA .'.

Em uma reunião matinal com os bruxos do oriente, o metre foi alertado, por seus conselheiros, sobre a trama que se armava em torno de seus interesses. Desta vez não se tratava de um inimigo. Mas de alguém próximo que, ao mesmo tempo teria bons interesses, dispunha também de segundas intenções. O mestre seria solicitado e induzido a cobrar algo pelo serviço que comumente presta em forma de oferenda.

Na tentativa de antecipar um trato com a terra, fora perguntado às entidades que representam o mestre: 'O que queres?' e 'O que ganho?'. Porém, o mestre posicionou-se precavido. Autorizando apenas tratos por escrito e rubricados pessoalmente. Assim, as entidades contaram ao mestre como fora a simulação de eventuais decisões e consequências.

A trama se baseava em dois pontos. Primeiro haveria uma tentativa de forjar um encanto, no qual o mestre, apaixonado, confundiria uma de suas conselheiras espirituais, que o acompanham desde menino, com uma jovem que surgiria do nada. Os bruxos lhe orientaram que lhe poderia ser reivindicado aquilo que visse na moça, mesmo quando se trata de algo que o mestre tem desde sempre.

Foram colocadas na mesa, as cartas que induziriam ao erro. O mestre foi alertado de que deveria evitar apaixonar-se. Que deveria manter-se isento de qualquer tipo de comercialização subjetiva ou metafísica. Principalmente as quais estão vinculadas à identidades. Mas sim, precisaria salvaguardar aquilo que tem e sente.

Outra possibilidade, de indução ao erro, consistiria na sugestão ao mestre de cobiçar algo de outra pessoa. Ou ‘sem outra pessoa’. Para que assim, algo lhe fosse cobiçado. Desta forma o mestre deveria evitar qualquer tipo de apropriação indevida e não autorizada. Para assim, salvar-se da submissão a tal medida. 

Por último, o mestre poderia ser induzido dispensar e ceder coisas que aparentemente estivessem fora de uso, para que assim fossem solicitadas. Ou, a liberar pessoas, as quais poderiam ser facilmente confundidas com seus aliados espirituais.  Desta forma seria acusado de ter desistido de alguém, o qual tentaria lhe cobrar algo que tem. Outras situações também foram antecipadas e mantidas em segredo.

Assim, na presença dos bruxos do oriente, o mestre invocou os deuses e espíritos iluminados que o acompanham, e explanou: 'Estamos a par da trama que se arma. Conto convosco para que possamos permanecer unidos além dos tempos. Aqui nos encontraremos outras vezes para celebrar a perpetuação de nossa aliança'. Sabendo que o martelo alheio poderia bater a qualquer momento, o mestre antecipou três batidas (Pah, Pah, Pah). Encerrando assim a sessão, antes mesmo de começar.


Juliano Dornelles

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Os pássaros


OS PÁSSAROS

Acreditava-se que os pássaros seriam emissários de boas notícias. Talvez porque lembrassem os pombos-correios que cortavam o céu trazendo as boas novas.

Minha vó tinha uma casa bem espaçosa, em Livramento. Ela deixava as janelas de um amplo corredor sempre abertas porque podia ver os pássaros, pousando por perto, tanto dentro como fora da casa. Nas janelas havia miolo de pão que eram deixados para eles e sempre na mesma hora.Também podia se tratar de mais uma das tantas superstições do dito popular.

O fato é que minha avó ficava sorrindo pela casa ao ver os pássaros pousarem, pouco a pouco, em seu trajeto diário, nos corredores da casa ou nos pátios, por onde circulava para recolher os ovos, as frutas e hortaliças. Pedia que os filhos e netos caminhassem lentamente para não espantar essas aves, quando surgiam em algum canto. E vovó contagiava a todos. E passávamos a esperar a boa notícia do dia, cada um a sua. De qualquer modo a esperança de um dia feliz já nos fazia mais humanos. Era como se os pássaros e seu canto ficassem no nosso inconsciente transformando o cotidiano e amenizando nossas carências.

E ouvíamos vovó anunciar,pelas manhãs:

-Levantem e venham ver as andorinhas!

E passado o verão vovó ficava pensativa, junto à janela, porque o bando de andorinhas não iria permanecer nas manhãs ou madrugadas de outono, já mais frias.

Os pardais ganhavam sobras de arroz que eram deixadas num prato especial, na área dos fundos.

Quando a velha casa foi reformada, os andaimes permaneceram mais tempo e causaram estranheza. Então vovó explicava para os curiosos de plantão:
-Há ninhos nos buracos e estamos esperando...

E esperava, na verdade, que chegasse o inverno quando não havia mais ninhos.

E na casa da chácara minha vó ensinava aos seus netos:

- Não quero ver bodoque e nem quero que mexam nos ninhos.

Mas, minha tia Thereza percebeu que os passarinhos atacavam as figueiras e bicavam os figos. E para evitar esse ataque ela passou a levantar muito cedo para colhê-los .Com eles eram feitas saborosas compotas em caldas douradas. 

A plantação de árvores, na chácara, fez com que aumentassem o número dos comilões.

A pomba-rola, o bem-te-vi, o sabiá, o papa-laranja, o beija-flor os pelinchos devastadores de caquis, o tico-tico eram frequentadores do pomar da chácara de vovó.

Sempre que lembro da casa da cidade me deparo com saudade dos pássaros que vovó tanto apreciava. Quando acordava já abria portas e janelas por onde os via descansar e buscar o miolo do pão dormido.

Mas de quem me lembro com saudade é do canarinho da terra, o primeiro a chegar, derramando seu concerto de trinados amorosos, com requintes de grande cantor, a exibir-se em algum peitoral de janela, no esplendor da terra morna. 

E me alegro ao pensar nesses pássaros encantadores que surgiam nos verões para embalar a saudade do núcleo familiar.

E falo com propriedade se disser, que de certa maneira,sem nunca possuir gaiolas,sempre tive a alegria de ver pássaros dentro da casa de minha avó querida: Dona Glória.


Katia Chiappini


quinta-feira, 18 de junho de 2015

Comunhão Total - Entre o céu e a terra



COMUNHÃO TOTAL - ENTRE O CÉU E A TERRA ( Contos de Paz )
Por Juliano Paz Dornelles

O Guerreiro resolveu consultar o Caboclo a fim de saber o que estava acontecendo. Sabia estar no caminho certo na grande maioria do tempo. Mas em alguns momentos, algo lhe chamava ao passado. Contudo, a missão assumida pelo guerreiro consiste em ir pra frente. Em direção ao futuro o qual idealiza. Construindo a realidade como seus ancestrais Mestres Construtores fazem desde sempre.

Tomando um café, em uma manhã de segunda-feira, conversavam com os espíritos da terra. O Caboclo contou ao Guerreiro que sua determinação incomodava algumas pessoas próximas. Principalmente no ambiente profissional. Alguém queria derrubá-lo. Forças Wiccas orando a um 'Santo Católico Humano Marrom'.

Apesar desta surpresa, o Guerreiro e o Caboclo, ao chamarem tais entidades à conversa, descobriram que, no fundo, ambas se mostravam apreensivas. E assumiriam o compromisso de lutar ao lado do Guerreiro. Sendo que o tal 'Santo Marrom' se encontrou 'Branco' no próprio Guerreiro. Conforme revelou o Caboclo.

Mas o que havia acontecido. Perguntou o Guerreiro. Há mais ou menos dez anos, na passagem do Guerreiro pela Guerra, em uma experiência como General Cavaleiro de Cristo, as mesmas pessoas se sentiam incomodadas. Não entendiam porque o 'Menino' se encontrava 'Montado sobre si Mesmo', como 'Guerreiro, Cavalo e Cavaleiro Branco' ao mesmo tempo. E que naquela ocasião também tentaram derrubá-lo. Contudo, o Guerreiro permanece em pé até hoje.

O relato do Caboclo fez lembrar uma passagem de um longo tempo pelo inferno. Na qual o guerreiro, ao esvaziar-se e desdobrar-se em vários entes, teve de levantar o cavalo nas costas para se tornar um novamente. Fazendo  algo semelhante com os demônios e espíritos infernais que o perseguiam. Tratando-os e ajudando-os a se tornarem espíritos de luz.

A tentativa de levar-lhe foi feita da seguinte maneira. Mostraram-se alguns espíritos do lado externo. Imitando as entidades que foram vistas com o Guerreiro. Pretos, Exús, Cavalos e outros entes. A tentativa do inimigo era que o Guerreiro confundisse tais entidades externas com as quais têm em si mesmo. Uma tentativa de aquisição dos mesmos espíritos ao negar o Guerreiro.

O fato é que, naquela ocasião, em uma cerimônia real e  imaginária ao mesmo tempo, o guerreiro havia se esvaziado por completo. Os entes com os quais trabalha, permaneceram guardados de forma oculta no subconsciente. Apesar disso, o guerreiro teve sérios problemas relacionados à fé. O que lhe fez passar por dificuldades e ter problemas no mundo dos relacionamentos. Familiares, amistosos e profissionais.

Sabendo deste detalhe, após uma segunda tentativa do mesmo tipo, o Guerreiro, ao desmontar o trabalho, descobriu que seus verdadeiros entes permanecem em si mesmo (no próprio ser Guerreiro). E que, aqueles os quais se presentam no mundo exterior,  desejam, de fato, juntar-se ao Guerreiro.

Desta forma, o Guerreiro formalizou o convite aos entes no testemunho do Caboclo: 'Vocês estão convidados a juntar-se a nós para que juntos possamos lutar na construção de um mundo melhor a partir da mudança de atitude e da transformação do ser'.

A partir daquele momento, sabendo que tudo está no ser, o Guerreiro entendeu que tens de assimilar tudo o que lhe for apresentado no mundo externo. Incorporando ao âmago do ser interior. Da mesma forma que tens, também, de exteriorizar, em sua produção cultural, algumas coisas que cria dentro de si e podem ser úteis ao mundo.

O Guerreiro se encontrou longe de ser o mesmo a partir daquele momento. Contudo, o mesmo e o outro; O igual, o semelhante e o diferente; Agora foram assimilados em comunhão total. A ata foi selada pela conversação oculta nas entrelinhas. O próprio Caboclo, os Pretos e os Exús, se tornaram um com o Guerreiro.

Juliano Dornelles

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terça-feira, 9 de junho de 2015

Segredos

Os deuses chegaram ao mago e disseram-lhe: ‘Temos um segredo. E você foi escolhido pra guardá-lo. Queremos saber se estás pronto pra recebê-lo. Pense e nos diga quando souber a resposta’

O mago consultou os oráculos de seu universo intrapessoal. E lhes foi revelado que: ‘A forma mais segura de guardar um segredo é ocultar de si mesmo, até que se revele por si só, com o tempo, na hora certa’

O mago direcionou-se aos deuses e disse: ‘Estou pronto’

'Queres saber o segredo?' - Perguntaram-lhe os deuses.

'Prefiro mantê-lo oculto' - Respondeu o mago. Assim fez-se merecedor do presente divino.


Juliano Dornelles

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Consulta espiritual virtual

Eram duas da tarde. Há alguns anos. Hora da sobremesa, como costumo dizer. Entrei no web-chat a fim de fazer novas amizades. Conheci uma garota e começamos a teclar. Entrei como MASTER MÍDIA. E ela como CIBER GIRL.

MASTER MÍDIA: - Olá querida. Tudo bem com você ? Topas teclar ?

CIBER GIRL: - Bem sim. E vc ?

MASTER MÍDIA: - Estou ótimo. Um dia light hoje no trabalho. Teclas de Porto Alegre mesmo ?

CIBER GIRL: - Grande POA. - Mas estou em uma Lan House do centro de Porto Alegre agora.

MASTER MÍDIA: - Legal. Estás livre então ? Qual sua idade ?

CIBER GIRL: - Sim, estou. Tenho 30 anos. E vc ?

MASTER MÍDIA: - Tenho 33. Estou em busca de uma amizade. Toparias me conhecer ?

CIBER GIRL: - Até toparia. Mas estou saindo de um relacionamento recente. Um cara que conheci no chat. Investi no cara. Gostava dos momentos a dois. Mas depois me sentia carregada. Uma tristeza. Se conhecer uma benzedeira me indica. kkkkkkk

MASTER MÍDIA: - Trabalhei com religião um tempo. Posso trabalhar o seu corpo se me permitir. Venha me visitar.

CIBER GIRL: - Fico meio insegura. Os caras da internet só querem sexo. Mas sexo é bom. Aí é que está o problema. Só que depois me sinto mal. Como um instrumento descartável.

MASTER MÍDIA: - Imagino como se sente. E era exatamente neste ponto que gostaria de chegar. Senti tua energia agora. Esta pesada mesmo.

CIBER GIRL: - Sim estou. Estou carente. Preciso de colo.

MASTER MÍDIA: - Toparias me visitar ?

CIBER GIRL: - Hoje não. Quem sabe outro dia.

MASTER MÍDIA: - O que pode fazer de imediato é tomar um banho com sal grosso. Evite procurar contatos que têm interesse apenas carnal. Tente ir ao encontro daqueles que lhe dão carinho. Lhe tratam com educação. E são gentis.

CIBER GIRL: - Sim. Estou precisando disso.

MASTER MÍDIA: - Lembre que o sexo é igualmente gostoso com carinho, respeito e boa conversa. Há coisas tão boas quanto uma puxada de cabelo e tapas na bunda. Se resolver venha me visitar.

CIBER GIRL: - Ok. kkkkk

MASTER MÍDIA: - Gosto da pegada forte em alguns casos, porém sinto que você está precisando de carinho. Qualquer coisa me liga (51) 9501-3***. Bjs querida. Melhoras aí.

CIBER GIRL (saiu da sala)

Após esta rápida conversação, até mesmo minha fome (ou vontade de comer) havia passado. Senti que havia dado início a uma boa ação. Então fui tomar uma ducha. Pois de fato fiquei mesmo carregado. Enquanto estava no banho, o telefone tocou: ‘Oi Master. É a Ciber’.

Senti que aquela seria uma tarde memorável.


Juliano Dornelles
Membro do Partenon Literário
Site pessoal: pazdornelles.com



sábado, 30 de maio de 2015

Intromissão


Altos da Bronze, rua Duque de Caxias, décimo andar de um belo e imponente edifício antigo.

Compartilho este andar com mais três condôminos.

Pois lhes conto que um dia estava eu passando pelo corredor, quando ouvi vozes que vinham da área de serviço de uma moça, cujo apartamento faz divisa com o meu.

Minha vizinha é muito bonita e elegante. Muitas vezes a vejo sair pela manhã e retornar à tardinha. Ouço o toc, toc dos sapatos de salto, e corro para o corredor. Nos cumprimentamos, só isso. Estou bastante curiosa. Não sei sua idade, se vive sozinha, se tem namorado, onde trabalha, se estuda ... Não é por mal, não! É que gosto de saber das coisas e ajudar os vizinhos. Afinal a moça se mudou a pouco tempo e pode precisar de ajuda.

Um dia destes pensei numa maneira de me aproximar dela. Fui até o meu quarto e peguei a capelinha. Bati de leve em sua porta e levantando a imagem de nossa senhora até o olho mágico, falei: - É a visita de nossa senhora, moça! Sabe o que ela fez? Pois imaginem só, ela gritou lá de dentro: -Não quero, obrigada. Voltei para o meu apartamento bastante indignada e falando comigo mesma: -Será possível que ela não goste da mãe de Jesus?

Naquela noite fiquei imaginando mil coisas. Ardia de curiosidade. Como seria o apartamento dela, porque não me deixou entrar?

Durante a reforma, que durou três meses, o barulho era infernal. Volta e meia ela aparecia, eu ouvia a conversa com os operários mas não conseguia entender o que diziam e nestas horas eu ficava de orelha em pé, mas de nada adiantava.

Um belo dia, num sábado, lembro bem, ela chegou com a mudança. Fiquei tão ansiosa que nem consegui ver televisão. Perdi a novela das oito, o noticiário... Vizinha nova; fofocas novas, oba!

Mas eu ia contar sobre as vozes... Pois naquele dia colei o ouvido na porta que da para a área da tal moça e ouvi isto: -Calma, vai ficar tudo bem, ta bom? Me da teus pezinhos, assim... te enterro na área, tu ficas te aquecendo ao sol...Bastante água... prometo que não vou te afogar... agora ponho mais terra por cima... isso, assim.... agora tira o bracinho para fora, assim... pronto... pronto.
Agora, fica bem aí, ta bom? Vou jantar, depois volto para te ver ta, queridinha?

Bem, não é preciso dizer que fiquei apavorada. Primeiro paralisei. Depois pensei em chamar o zelador do edifício. Mas refleti, afinal ele podia dizer que era o descobridor, o detetive, o esperto que flagrou a criminosa e eu não queria de maneira alguma perder nenhum dos títulos que me cabiam, que me pertenciam por direito. Foi quando resolvi correr ao telefone e ligar para polícia.

-Alô, é da policia? Sim? Pelo amor de Deus venham depressa antes que seja tarde, tem uma doida enterrando alguém aqui no edifício, alô, só um momento já vou dar o endereço...

Nisto, a campainha soou estridente e logo a seguir ouvi a voz dela, da assassina, imaginem?! Já nem tinha vontade de conhecer a criatura. Tremi dos pés a cabeça, e no telefone a voz insistente gritava: -Fale minha senhora, diga o endereço...

Larguei o aparelho e busquei dentro de mim a coragem que nem sabia que tinha. Abri a portinhola e perguntei: -O que a senhorita deseja? Ao que ela respondeu: -É que ganhei esta muda de pimenta de jardim, é muito frágil, e queria saber se a senhora pode me ajudar, ela parece triste. Já conversei com a pobrezinha, reguei, coloquei terra nova, bem fofa, mas não sei se ela vai sobreviver. A senhora tem na sua área folhagens lindas e deve ter experiência com plantas pequenas, não é mesmo?

Ufa, que alívio. Com que então, era isso!?

Eu e a moça, minha vizinha misteriosa, temos afinidades, interessante, muito interessante.
Peguei o telefone e ainda ouvi a voz aflita que gritava: - Alô, alô, fale por favor!
Coloquei o fone no gancho e corri até a porta para abri-la e convidar a moça à entrar.

Não sei se salvo a plantinha desta maluca, mas desta vez mato minha curiosidade. Ah! Se mato.  

Gerci Oliveira Godoy      

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Carta de libertação

Pela primeira vez, em séculos, os Caboclos resolveram fazer uma visita ao Grande Pajé, em um sábado de manhã. As reuniões dos Caboclos eram feitas sempre as segundas pela manhã. Pois, no domingo era o dia de trabalho dos Pretos.

Chegando à tribo do Grande Pajé, os caboclos foram reverenciados pelos índios. Chegando ao grande Pajé, sentaram-se em meio a uma clareira na mata e colocaram as questões que lhe atormentavam.

Os caboclos reclamavam que haviam testemunhado uma forma comércio espiritual, por parte de algumas pessoas, de entidades ancestrais, como cavalos ou escravos. Só que tais pessoas, quando induzidas a comercializar a ‘própria vida’ não sabiam que estavam trazendo ao matadouro os ancestrais próximos e distantes.

O comércio funcionava da seguinte forma. Moças e rapazes faziam-se aceitos e assinados como tendo determinadas ‘identidade espirituais’. Como se fossem ‘santos’, ‘anjos’ ou ‘demônios’. Então, em troca de algum benefício, tratavam, de forma irracional, o comércio das respectivas ‘entidades’, com as quais teriam sido reconhecidos.

O fato controverso desta história é que, os verdadeiros ‘santos’, ‘anjos’ e ‘demônios’, estão livres de serem submetidos a este tipo de transação. Mas o que acontecia, era que, ao pensar que estavam comercializando uma ‘identidade’, os jovens estavam comprometendo as respectivas linhagens ancestrais.

Os Caboclos trouxeram, ao Pajé, o pedido, por parte dos jovens, de libertação dos respectivos ancestrais que estariam sendo vítimas de escravidão e trabalho forçado. O Pajé, comovido com a história, disse que o mesmo havia sido tentado fazer com os Pretos. Os quais, recentemente, conquistaram o contrário da escravidão, através da legitimação da liberdade de ir e vir.

Ao passar o Chá de Caah, entre os espíritos presentes, selou-se a libertação das entidades envolvidas. Fazendo-lhes o convite de fazerem-se presentes, sempre que desejarem. “Aqui preservamos nossos ancestrais. Desde os astros do céu às plantas e animais” – Assim Concluiu o Grande Pajé.

Juliano Dornelles
Membro do Partenon Literário
Site pessoal: pazdornelles.com

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

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Atenciosamente

J.P.D.