segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Entre o bem e o mal .'.


MAGIA DO COTIDIANO .'. ENTRE O BEM E O MAL .'. 

O mago dosa as vivências da jornada. 
Ouve o que o céu e a terra tem a lhe dizer. 
Seus aliados e adversários lhe mostram o que fazer e o que evitar fazer.

O demônio sussurra em seu ouvido: "Dizem que você sonha grande demais. Que é ambicioso. Que tem recalques. Imagine-os com inveja. Com ciúmes. Você se intitula melhor do que é. Você se juga maior que os grandes. Coloque-se no seu lugar. Esqueça os sonhos. Para que malhar? Olhe tv à noite. Para que estudar? Durma até mais tarde. Para que trabalhar nos fins de semana? Beba todas. Telegrafe suas fezes aos culpados pelos problemas do mundo. Você é vítima. Você tem culpa. Se está difícil encontrar portas abertas, ou abrir caminhos, desista"

O anjo lhe diz: "Você é responsável pelo que faz no dia-a-dia. Você é capaz de construir o futuro que desejar. Você merecerá colher o bem se plantar o bem. Escolha o caminho certo"

Consciente de que precisa escolher os ingredientes certos. Completa a poção com o que lhe motiva, acrescenta e fortalece.

J.P.D.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

A história de João e Ana .'.

A HISTÓRIA DE JOÃO E ANA .'. POR JOANA .'.
Da série 'Contos de Paz'

Ana estava namorando um rapaz o qual admirava muito. João era devoto de Jorge. Apesar de adulto, ora se mostrava como um memino, ora como um pai, ora como um louco que se confundia com os mártires que acredita .'.
A relação de ambos teve bons momentos. Mas foi conturbada em alguns episódios. João julgava-se o próprio mito de suas crenças. Discutiam com frequência. Entre a bipolaridade e a abstinência de substâncias químicas, vinham as crises de agressividade. Porém, sem jamais agredir fisicamente. Apenas discussões e socos na parede .'.
João foi mal interpretado por Ana. Ana, ignorava que João integra a banda do céu e da terra, desde menino, juntou-se com seus comparsas para tramar-lhe uma emboscada .'.
Aprontaram uma oferenda de espadas de Jorge à terra. Encontraram-se em lugar neutro. Ana pediu que João 'girasse' dela, tal oferenda. De outro modo, em troca, pediu moedas a um adversário. Ignorando que o próprio João é quem lida com tal pare .'.
João foi julgado e condenado severamente, mesmo sendo inocente dos crimes que fora acusado. Dentre os quais, de imaginar, no chão, aqueles que visavam vê-lo cair de sua montaria imaginária. Mesmo sabendo que, era apenas João montado a pé, sozinho, quando lhe viram montado .'.
Seu bando foi proibido de ajudar-lhe. A banda branca silenciou por doze anos, quando João era ligado. Até que João começou a ajudar-se. Refazendo as ligações que guarda desde a infância .'.
No caminho, lhe propuseram justiça ou vingança. Descobriu que a trama lhe teve um custo. Um custo além de suas propriedades móveis e imóveis da época. Além de retardo de sua renda e da posição que almejava no mundo dos estudos e trabalhos. Um custo espiritual. Um dano emocional. Além de obstáculos profissionais que lhe causaram sofrimento .'.
João resguardou-se da proposta de vingar-se. Preferiu o caminho do bem. Fez uma lista de interesses, dentro de suas possibilidades e méritos construídos pelo empenho diário. Visto o êxito de sua autoajuda, ofereceram-lhe dobrar os ganhos. Mas João preferiu manter a lista, e multiplicar os ganhos possíveis com quem lhe ajudar a conquistar os objetivos registrados nos seus registros de metas .'.
Abriu mão do retorno de Ana, Joana e Mariana. As três virgens que conheceu na adolescência. E que andaram de mão em mão (salvo quem firmou relacionamento estável), após conhecê-lo. Preferiu casar-se com o poder superior. E manter-se solteiro. Para lutar à serviço do bem .'.
No caminho, encontrou outras mulheres. Algumas, resolveram somar-se em sua luta, na direção do crescimento pessoal e profissional. Outras, a serviço de um falso cão, foram descobertas em seus trabalhos de vampirismo.
Revelou-se que as mesmas trabalhavam em segredo. Vestidas de preto ou com roupas tigradas. Com rosas no ombro, ou borboletas, tatuadas. Deveriam ajudar os bons e punir os maus. Mas tiveram dificuldade em reconhecer João .'.
Tais moças, reconhecidas como nenhumas, tinham dificuldades em reconhecê-lo no amor, na riqueza e no sexo, do modo como luta em seu imaginário .'.
Aquele a quem deveriam ajudar e priorizar. Agora, abre os trabalhos de tais moças. Encontrando seus 'giros'. Em assaltos patrocinados pela moeda de dois lados, aos meninos adultos que se jugam o próprio pai que lhes acompanha .'.
Em nome dos anjos e cavaleiros, João iniciou um trabalho à serviço da luz. Apurando os fatos e débitos de quem se esconde, se esquiva e foge de reconhecê-lo e ajudá-lo. Pois quem age deste modo, ignorando seus méritos e necessidades, tem débitos ocultos a serem revelados .'.
Ana, tornou-se sua testemunha distante: "João é o maior guerreiro que conheci. Vi-lo cair, prostrar-se, gaguejar e derrubar-se; Vi-lo de pernas bambas; Vi-lo com o terreiro inteiro nas costas; Vi-lo sendo martelado em templos de mercadores; Vi-lo sendo jogado em um poço; Vi-lo sendo assaltado inúmeras vezes; E deixado na sarjeta de uma esquina". Onde encontrou-se, em meio a tristeza e a derrota do uso descontrolado de substâncias químicas. "E, mesmo assim, reergueu-se, vencendo, pra vencer, na alegria da sobriedade" .'.
J.P.D.

domingo, 19 de julho de 2015

A acordeonista


A acordeonista cansara de portar sobre suas costas sexagenárias, um acordeon que pesava 13 kg. O acordeon se tornara uma equação de difícil solução.

Ao viajar para a França, a dama vislumbrou na vitrine de uma loja um acordeon mais leve e funcional. Entrou e pediu ao vendedor para verificar as características do instrumento e dedilhou parte de uma música. Realmente, como parecia, era muito mais leve para segurar sobre os ombros. E era fabricado dentro dos padrões de alta tecnologia, possuindo inúmeros recursos.

Voltou à Porto Alegre, Rio grande do Sul, Brasil.

Certa manhã foi às compras num shopping da cidade.  Olhou para a vitrine de uma loja de instrumentos musicais e viu, com surpresa, o mesmo modelo de acordeom que havia descoberto na sua ida à França. Entrou na loja e pediu ao vendedor para experimentar o instrumento. Colocou-o sobre os ombros e dedilhou uma melodia para apreciar, inclusive, os ritmos e sons que poderia tirar do instrumento.

Ao perceber que se tratava do mesmo instrumento cuja leveza havia lhe impressionado,pediu ao vendedor que o colocasse na capa apropriada e o embrulhasse devidamente. 

O vendedor indagou, curioso, dirigindo-se à acordeonista:

- Mas a senhora não vai perguntar o preço do acordeom?

- E, por acaso, a arte tem preço?

Diante dessa resposta inusitada, o vendedor tratou de fazer logo a embalagem para evitar alguma advertência por parte da compradora que parecia ter uma palavra só.

A dama saiu da loja com o seu acordeon. E desejei que Deus desse a ela mais 40 anos de vida e assim, pudesse abrir seu leque sonoro, para transmitir a boa música. Pois só a música é o alongamento da alma. 

E tenho encontrado a acordeonista nos eventos da cidade, com sua inigualável e original performance, sempre portando um belo sorriso para sua platéia entusiasta e receptiva.


Katia Chiappini 


quinta-feira, 16 de julho de 2015

Mestre


MESTRE 

O Mestre estava deitado, debaixo de uma árvore, lendo um livro. O peregrino perguntou-lhe: "O que faz descansando sob o sol das quinze horas?"

O Mestre respondeu: "Estou trabalhando"

- "Mas ler, deitado na grama, é trabalhar?' - Questionou o peregrino.

- ''A um etnógrafo, antropólogo, pesquisador, pensador, intelectual, cronista e produtor literário, sim".

- "Lembre-se de movimentar-se" - Completou o peregrino.

- "Faço isso, em partes, várias vezes ao dia" - Respondeu o Mestre - "Inclusive quando muitos sentam para almoçar ou olhar televisão"; "Quando deitam para dormir, estarei redigindo as observações do dia".

*Em um diálogo intrapessoal; Mestre e peregrino, são estados de espírito do Mago, em sua jornada de autoconhecimento.

Juliano Dornelles

quinta-feira, 2 de julho de 2015

A greve do magistério



Em tempos idos precisávamos, lá na Escola, de um modo de criar verbas para manter a greve e nossas reivindicações.Acampamos na Praça da Matriz, junto ao Palácio Piratini da cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul,Brasil.

Quando tomei conhecimento das necessidades da turma tive uma ideia e tratei de materializá-la. Precisávamos de faixas, muitos cartazes,cavaletes, fita adesiva, cola, caneta e tudo o mais que possibilitasse agir em nome da causa e da palavra de ordem.

Então,escrevi 80 quadrinhas, sendo uma para cada uma das professoras, contendo  nome e características pessoais.

Fui encontrando as colegas e oferecendo as quadrinhas:

-Se quiseres guardar como lembrança essa quadrinha que fiz com o teu nome, é só pagar uma pequena quantia e levar para casa.

 Não saberia dizer a quantia solicitada, mas nunca vou esquecer que vendi as 80 quadrinhas que havia feito. Depois de alguns dias coloquei a importância arrecadada em um envelope e me dirigi à comissão de greve para fazer a entrega.

Ao deixar o local percebi que, ao mesmo tempo, entrava uma das vice-diretoras da Escola.

Eu já havia me distanciado um pouco, mas ainda foi possível ouvir o seguinte diálogo:

-Como conseguimos essa importância em dinheiro?

-Com as poesias da Katia.

Agradeci a Deus por esse dom de inspiração pródiga que me leva a escrever uma poesia, logo ao acordar, antes do café matinal. 


Katia Chiappini

A trama


A TRAMA .'.

Em uma reunião matinal com os bruxos do oriente, o metre foi alertado, por seus conselheiros, sobre a trama que se armava em torno de seus interesses. Desta vez não se tratava de um inimigo. Mas de alguém próximo que, ao mesmo tempo teria bons interesses, dispunha também de segundas intenções. O mestre seria solicitado e induzido a cobrar algo pelo serviço que comumente presta em forma de oferenda.

Na tentativa de antecipar um trato com a terra, fora perguntado às entidades que representam o mestre: 'O que queres?' e 'O que ganho?'. Porém, o mestre posicionou-se precavido. Autorizando apenas tratos por escrito e rubricados pessoalmente. Assim, as entidades contaram ao mestre como fora a simulação de eventuais decisões e consequências.

A trama se baseava em dois pontos. Primeiro haveria uma tentativa de forjar um encanto, no qual o mestre, apaixonado, confundiria uma de suas conselheiras espirituais, que o acompanham desde menino, com uma jovem que surgiria do nada. Os bruxos lhe orientaram que lhe poderia ser reivindicado aquilo que visse na moça, mesmo quando se trata de algo que o mestre tem desde sempre.

Foram colocadas na mesa, as cartas que induziriam ao erro. O mestre foi alertado de que deveria evitar apaixonar-se. Que deveria manter-se isento de qualquer tipo de comercialização subjetiva ou metafísica. Principalmente as quais estão vinculadas à identidades. Mas sim, precisaria salvaguardar aquilo que tem e sente.

Outra possibilidade, de indução ao erro, consistiria na sugestão ao mestre de cobiçar algo de outra pessoa. Ou ‘sem outra pessoa’. Para que assim, algo lhe fosse cobiçado. Desta forma o mestre deveria evitar qualquer tipo de apropriação indevida e não autorizada. Para assim, salvar-se da submissão a tal medida. 

Por último, o mestre poderia ser induzido dispensar e ceder coisas que aparentemente estivessem fora de uso, para que assim fossem solicitadas. Ou, a liberar pessoas, as quais poderiam ser facilmente confundidas com seus aliados espirituais.  Desta forma seria acusado de ter desistido de alguém, o qual tentaria lhe cobrar algo que tem. Outras situações também foram antecipadas e mantidas em segredo.

Assim, na presença dos bruxos do oriente, o mestre invocou os deuses e espíritos iluminados que o acompanham, e explanou: 'Estamos a par da trama que se arma. Conto convosco para que possamos permanecer unidos além dos tempos. Aqui nos encontraremos outras vezes para celebrar a perpetuação de nossa aliança'. Sabendo que o martelo alheio poderia bater a qualquer momento, o mestre antecipou três batidas (Pah, Pah, Pah). Encerrando assim a sessão, antes mesmo de começar.


Juliano Dornelles

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Os pássaros


OS PÁSSAROS

Acreditava-se que os pássaros seriam emissários de boas notícias. Talvez porque lembrassem os pombos-correios que cortavam o céu trazendo as boas novas.

Minha vó tinha uma casa bem espaçosa, em Livramento. Ela deixava as janelas de um amplo corredor sempre abertas porque podia ver os pássaros, pousando por perto, tanto dentro como fora da casa. Nas janelas havia miolo de pão que eram deixados para eles e sempre na mesma hora.Também podia se tratar de mais uma das tantas superstições do dito popular.

O fato é que minha avó ficava sorrindo pela casa ao ver os pássaros pousarem, pouco a pouco, em seu trajeto diário, nos corredores da casa ou nos pátios, por onde circulava para recolher os ovos, as frutas e hortaliças. Pedia que os filhos e netos caminhassem lentamente para não espantar essas aves, quando surgiam em algum canto. E vovó contagiava a todos. E passávamos a esperar a boa notícia do dia, cada um a sua. De qualquer modo a esperança de um dia feliz já nos fazia mais humanos. Era como se os pássaros e seu canto ficassem no nosso inconsciente transformando o cotidiano e amenizando nossas carências.

E ouvíamos vovó anunciar,pelas manhãs:

-Levantem e venham ver as andorinhas!

E passado o verão vovó ficava pensativa, junto à janela, porque o bando de andorinhas não iria permanecer nas manhãs ou madrugadas de outono, já mais frias.

Os pardais ganhavam sobras de arroz que eram deixadas num prato especial, na área dos fundos.

Quando a velha casa foi reformada, os andaimes permaneceram mais tempo e causaram estranheza. Então vovó explicava para os curiosos de plantão:
-Há ninhos nos buracos e estamos esperando...

E esperava, na verdade, que chegasse o inverno quando não havia mais ninhos.

E na casa da chácara minha vó ensinava aos seus netos:

- Não quero ver bodoque e nem quero que mexam nos ninhos.

Mas, minha tia Thereza percebeu que os passarinhos atacavam as figueiras e bicavam os figos. E para evitar esse ataque ela passou a levantar muito cedo para colhê-los .Com eles eram feitas saborosas compotas em caldas douradas. 

A plantação de árvores, na chácara, fez com que aumentassem o número dos comilões.

A pomba-rola, o bem-te-vi, o sabiá, o papa-laranja, o beija-flor os pelinchos devastadores de caquis, o tico-tico eram frequentadores do pomar da chácara de vovó.

Sempre que lembro da casa da cidade me deparo com saudade dos pássaros que vovó tanto apreciava. Quando acordava já abria portas e janelas por onde os via descansar e buscar o miolo do pão dormido.

Mas de quem me lembro com saudade é do canarinho da terra, o primeiro a chegar, derramando seu concerto de trinados amorosos, com requintes de grande cantor, a exibir-se em algum peitoral de janela, no esplendor da terra morna. 

E me alegro ao pensar nesses pássaros encantadores que surgiam nos verões para embalar a saudade do núcleo familiar.

E falo com propriedade se disser, que de certa maneira,sem nunca possuir gaiolas,sempre tive a alegria de ver pássaros dentro da casa de minha avó querida: Dona Glória.


Katia Chiappini